Depois de grandes lutas para nos livrarmos do domínio pátrio, onde nós mulheres éramos vistas como rés, não tínhamos opinião, direito a voto, não podíamos trabalhar se não houvesse consentimento de pais ou maridos, nosso dever era cuidar da casa, dos filhos, das coisas do marido e aceitar de qualquer jeito a vida que a nós era imposta, sem elucubrações.
Pensar? Nos mulheres não tínhamos esta capacidade, e assim foram séculos.
No passado o sistema dominado pelas ideias masculinas, as mulheres eram uma classe inferior, amordaçaram-nas, queimaram-nas, apedrejaram-nas.
Depois de grande luta, nos mulheres começamos a brilhar no mundo acadêmico, na vida, passamos a ter escolhas, votar,trabalhar, e se formar, a cadeira das universidades nas áreas de Direito são umas das mais escolhidas, as advogadas passaram a ser não mais aqueles míseros “gatos pingados” e sim já estamos chegando a metade dos advogados inscritos na Ordem Dos Advogados Brasileiros. Pausa para um grande viva para nós Mulheres.
Passamos de sonhadoras para guerreiras, passamos da plateia para o palco, para as tribunas, para as Togas, fazemos parte do Colegiado, e estamos dia após dia lutando pela tão festejada igualdade proclamada no artigo 5 da CRF.
E ainda com tudo isso as advogadas e suas lutas não deixamos a graça, a beleza, a delicadeza, a inteligência emocional de lado, somos belas, decididas, e olha que lá se vão mais de 117 anos que a primeira mulher advogada fez seu discurso em defesa de seu cliente, Dra. Myrthes Gomes de Campos, que com palavras sabias defendeu a justiça, cônscia das responsabilidades que abraçara no dia em que escolheu ser advogada.
“[…]. Envidarei, portanto, todos os esforços, afim de não rebaixar o nível da Justiça, não comprometer os interesses do meu constituinte, nem deixar uma prova de incapacidade aos adversários da mulher como advogada. […] Cada vez que penetrarmos no templo da Justiça, exercendo a profissão de advogada, que é hoje acessível à mulher, em quase todas as partes do mundo civilizado, […] devemos ter, pelo menos, a consciência da nossa responsabilidade, devemos aplicar todos os meios, para salvar a causa que nos tiver sido confiada.
[…] Tudo nos faltará: talento, eloquência, e até erudição, mas nunca o sentimento de justiça; por isso, é de esperar que a intervenção da mulher no foro seja benéfica e moralizadora, em vez de prejudicial como pensam os portadores de antigos preconceitos.” [1]
Ainda enfrentamos os portadores de antigos preconceitos, como disse Dra. Myrthes em seu discurso, mas já caminhamos bons passos, na conquista do nosso espaço e podemos dizer que somos vencedoras de grandes batalhas nesta guerra chamada reconhecimento.
Hoje a mulher advogada no Rio de Janeiro já soma 50% dos inscritos no quadro da Ordem.
E como diz a presidente da OAB Mulher do Rio de Janeiro Dra. Marisa Gaudio, ao levantar a bandeira dos direitos da mulher advogada:
“Se pagamos 50% da conta, queremos 50% da mesa”.